quarta-feira, 26 de março de 2014

Porquê ler «Capitães da areia» de Jorge Amado?

  Leonardo (Básico Integrado, 20h00)

Na semana passada acabei de ler o romance «capitães da areia» do Jorge Amado. É desses livros que uma pessoa nunca quer que acabe.
«Capitães da areia» é um clássico da literatura brasileira e tem motivos bastantes para o ser. Aliás, é um livro curto que está escrito de maneira ágil e com uma língua fácil de compreender para um aluno do nível básico.
O livro conta a história dum grupo extenso de meninos da rua, órfãos que vivem num trapiche (uma sorte de armazém) abandonado e próximo do cais. As crianças são comandadas por Pedro Bala, líder carismático e autêntico protagonista do romance. O roubo, os enganos e as fraudes são o seu meio de vida. 
O Professor, Sem-Pernas, Volta-Seca, Gato, Pirulito, Boa-Vida, Dora, são alguns dos meninos que logo acabamos por conhecer e compreender, porque o Jorge Amado desenha uns personagens com uns perfis psicológicos verdadeiramente complexos e profundos. 
O dia-a-dia dos meninos permite chegar-nos ao Salvador de Bahia dos anos 30: uma cidade marcada pela crise originada na Grande Depressão de 1929, pelas diferenças sociais e por uma exuberante diversidade racial e cultural. 
Fonte da Imagem: http://www.universodosleitores.com/2013/02/o-pais-do-carnaval-de-jorge-amado.html
 
Ora bem, o romance apenas mostra uma parte dessa cidade: A Bahia da pobreza, dos malandros, do candomblé, dos capoeiristas, dos estivadores, dos doqueiros, das mulheres da vida, da varíola, e também dos Capitães da Areia; uma Bahia radicalmente separada e rejeitada pela burguesia dominante.
Jorge Amado oferece de forma crua, sem edulcorantes, a luta diária pela supervivência dos capitães.  Mas não é uma historia triste e sem esperança. O livro está carregado de um otimismo contagiante. Apesar de diversos episódios certamente traumáticos (que não vou desvelar), o autor crê num futuro para muitos dos meninos. Alguns até acabarão por ganhar consciência de classe e lutarão para mudar a situação de todos eles.
Provavelmente este espírito positivo tenha a sua explicação em que o Jorge Amado escreveu o romance quando só tinha 27 anos.
Não posso deixar de pensar que uma Bahia similar a esta foi a que achou o meu avô apenas uma década depois, quando emigrou da Galiza. Ele também viveu e trabalhou no cais. Não foi afortunado e retornou aos poucos anos, mas sempre conservou a lembrança daqueles tempos quando era moço na Bahia.
P.S.
Um pormenor curioso!
Alguns dos meninos (provavelmente a maioria) estão inspirados em pessoas reais. Um exemplo é Volta-Seca, aquele menino que sonha com ingressar na banda do rei do cangaço, o Lampião. Lembro que o cangaço foi uma sorte de bandidagem caraterística do Nordeste do Brasil, imortalizada pela literatura e o cinema. De facto, ele foi um dos cangaceiros mais conhecidos da banda, na qual entrou quando era apenas uma criança. A tradição conta que foi o autor de dois dos mais conhecidos hinos cangaceiros: «Mulher rendeira» e  «Acorda Maria Bonita». Morreu em 1997.

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