Leonardo (Básico Integrado, 20h00)
Na semana passada acabei de ler o romance «capitães da areia» do Jorge Amado. É desses livros
que uma pessoa nunca quer que acabe.
«Capitães
da areia» é um clássico da literatura brasileira e tem motivos bastantes para o ser.
Aliás, é um livro curto que está escrito de maneira ágil e com uma língua fácil
de compreender para um aluno do nível básico.
O livro conta a
história dum grupo extenso de meninos da rua, órfãos que vivem num trapiche
(uma sorte de armazém) abandonado e próximo do cais. As crianças são comandadas
por Pedro Bala, líder carismático e autêntico protagonista do romance. O
roubo, os enganos e as fraudes são o seu meio de vida.
O Professor, Sem-Pernas,
Volta-Seca, Gato, Pirulito, Boa-Vida, Dora, são alguns dos meninos que logo acabamos por conhecer e compreender, porque o Jorge Amado desenha uns
personagens com uns perfis psicológicos verdadeiramente complexos e profundos.
O dia-a-dia
dos meninos permite chegar-nos ao Salvador de Bahia dos anos 30: uma cidade
marcada pela crise originada na Grande Depressão de 1929, pelas diferenças sociais
e por uma exuberante diversidade racial e cultural.
Ora bem, o romance apenas mostra
uma parte dessa cidade: A Bahia da pobreza, dos malandros, do candomblé, dos
capoeiristas, dos estivadores, dos doqueiros, das mulheres da vida, da varíola,
e também dos Capitães da Areia; uma Bahia radicalmente separada e rejeitada pela
burguesia dominante.
Jorge Amado
oferece de forma crua, sem edulcorantes, a luta diária pela supervivência dos
capitães. Mas não é uma historia triste
e sem esperança. O livro está carregado de um otimismo contagiante. Apesar de diversos
episódios certamente traumáticos (que não vou desvelar), o autor crê num futuro
para muitos dos meninos. Alguns até acabarão por ganhar consciência de classe e lutarão
para mudar a situação de todos eles.
Provavelmente
este espírito positivo tenha a sua explicação em que o Jorge Amado escreveu o
romance quando só tinha 27 anos.
Não posso
deixar de pensar que uma Bahia similar a esta foi a que achou o meu avô apenas uma década depois, quando emigrou da Galiza. Ele também viveu e trabalhou
no cais. Não foi afortunado e retornou aos poucos anos, mas sempre conservou a
lembrança daqueles tempos quando era moço na Bahia.
P.S.
Um pormenor
curioso!
Alguns dos
meninos (provavelmente a maioria) estão inspirados em pessoas reais. Um exemplo
é Volta-Seca, aquele menino que sonha com ingressar na banda do rei do cangaço,
o Lampião. Lembro que o cangaço foi uma sorte de bandidagem caraterística do Nordeste do Brasil, imortalizada pela literatura e o cinema. De facto, ele foi um
dos cangaceiros mais conhecidos da banda, na qual entrou quando era apenas
uma criança. A tradição conta que foi o autor de dois dos mais conhecidos hinos
cangaceiros: «Mulher rendeira» e «Acorda
Maria Bonita». Morreu em 1997.
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